quarta-feira, 20 de maio de 2015

O doutor é quem sabe




 O doutor é quem sabe

Sempre que precisava de meu auxílio, Dona Lió, segundo ela mesma, orava e me chamava nas rezas. Eu sempre recebia usa mensagens pois batia uma saudade e uma vontade de estar com ela!
Em 2006, recebi visitas de Clarissa e Marcos, ela amiga de minha filha Tereza e ele, médico acupunturista.
Na ocasião, Dona Lió, já muito doente com um câncer e muito idosa, me mandou umas dessas “mensagens telepáticas” e eu convidei o Dr. Marcos para irmos fazer-lhe uma visita, nas sua casa na Ema, Sítio Kalunga no município de Teresina de Goiás. No caminho, ele me disse que sendo acupunturista, ele apenas poderia fazê-la sentir melhor, devido ao avançado estado da doença.
Lá chegando, Dona Lió estava de cama, quietinha e sentindo fortes dores.
Ela abriu os olhos e disse: “Ô meu fio, eu chamei e ocê veio.”
“Vim e trouxe um médico para cuidar da senhora” – respondi.
Dr. Marcos a examinou e eu expliquei a ela que o tratamento não tinha remédios e seria feito com o uso das agulhas.
Ela respondeu: “Eu chamei, ocê veio, trouxe o doutor. O tratamento, ele que sabe!”
Deixei-os no pequeno quarto e ele deu início ao processo. Cerca de uma hora depois, Dona Lió estava dormindo e assim a deixamos.
No dia seguinte, Dr. Marcos me chamou pra retornar à casa dela e ver como ela estava.
Chegando lá, a velha Lió não só estava de pé como varrendo seu quintal. Com um largo sorriso disse: “ Ô agulhinha boa, doutor! Num tõ sentindo mais nada! Pode fazer mais uma vez?”
Dr. Marcos fez mais uma sessão de acupuntura e fomos embora, deixando-a dormindo novamente.
Dona Lió morreu uma semana depois.
Da minha parte, ficamos felizes em poder ajudar. Por outro lado, a interação quilombola e medicina oriental foi maravilhosa!

terça-feira, 5 de maio de 2015

Troca de presentes

Numa das muitas oportunidades que tive de conviver com Dona Lió, eu estava acompanhado por Nick, um amigo inglês muito rico que gosta de visitar comunidades tradicionais de todo o mundo e contribuir em projetos sócio-ambientais.

Ao passar alguns momentos com a velha matriarca, Nick estava embevecido com o amor e a sabedoria de suas palavras, difíceis de ser traduzidas simultaneamente para a Língua Inglesa com o mesmo sentido.

Como sempre, tomamos café de duas mãos, com uma quitanda fresquinha saída do forno.
Ao nos despedirmos, Nick pegou algumas notas de vinte reais, fez um rolinho e discretamente entregou nas mãos da dela como um presente, agradecendo o lanche, a acolhida e a atenção dispensada.

Dona Lió não hesitou em receber o presente e pediu que esperássemos um pouco.

Voltou com uma galinha viva nas mãos e disse ao Nick: “Eu tamém gostchei muntcho do sinhô. Brigado pela visita. Pode levá a galinha. É um presente meu pru sinhô"!

E deu a galinha ao Nick, que não teve como recusá-la.
Despedimos-nos e levamos a galinha para o galinheiro da minha casa em Teresina de Goiás.

Meses depois, fotografei a galinha com uma ninhada de pintinhos e enviei a foto ao Nick. No ano seguinte ele voltou.