Do
tamanho que a gente quer
Tarde
quente na Ema. Procurava eu pelo Dino, guia Kalunga e grande amigo, quando
passei pela casa de D. Leó para ter notícias dele e para pedir a benção da
velha matriarca.
Lá
chegando, fui entrando e, como de costume, havia visitas. Desta feita era o Véi Vito com seus 102 anos, morador do
Vão de Almas, bem próximo à cachoeira final do Custa-me-ver, no Rio Almas,
neste local denominado pelos Kalunga de Rio Branco.
Após
muita prosa, café com rapadura e mintira,
um delicioso bolinho frito de polvilho e ovos caipira, o tempo fecha,
escurecendo o céu.
Os
dois velhos levaram a prosa para a tempestade que estava prestes a cair.
O
Véi Vito então disse: “Ô Lió ! Aqui nesse mundo eu só tenho medo
de rai!
Ela
respondeu: Eu tenho medo de rai e de
chuva de barui. Tamém tenho medo da escravidão. Nóis num alcançô, mas minha mãe
me contô cumo era!!!
E
finalizou com um sorriso : “Mas tem nada
não, Véi Vito ! A raiva e o medo é do tamanho qui a gente qué!
Em
meio a trovões, esperamos a chuva passar conversando
e tomando “café de duas mão” (1).
(1)
Café acompanhado por uma quitanda.