segunda-feira, 7 de março de 2016

Emiliano e o Gole d’Água



Emiliano e o Gole d’Água

Emiliano é um Kalunga instruído, pois foi professor de alfabetização de adultos e fala Português  com perfeição, o que ensinou bem a todos seus nove filhos e filhas,como José e Paulino, companheiros de viagens e cavalgadas.
Conheci Emiliano em 2000, quando fomos conhecer os caminhos do Engenho para o Vão de Almas e Choco, numa cavalgada de quatro dias.
O grupo, composto por técnicos do WWF-Brasil, nossos guias kalunga Benedito e Salomão, partiu da casa de Sirilo, no Povoado do Engenho, logo cedo, após pernoite no local.
Logo após a partida, encontramos com Emiliano ou Emílio, como é conhecido na comunidade, a pé, de bermudas e sandálias havaianas, com um embornal que continha o que ele precisava – farinha, carne seca, fumo, palha e o artifício - isqueiro de chifre, algodão, uma pedra “figo”-de - galinha” e um “fuzil” (fusível - pedaço de ferro) para a viagem de quase 20 km descendo a serra.
Água ele não levara, pois conhecia todas as fontes do caminho.
Emiliano humildemente perguntou se podíamos viajar juntos e se juntou ao grupo, andando ligeiro e saltando pedras como um garoto, mesmo com seus cinqüenta e tantos anos.
Ele me lembra o Gilberto Gil, tanto fisicamente como na maneira de falar. Depois de muitas conversas e “causos” ao longo da estrada cavaleira, sempre com o “paieiro” na boca, paramos para um descanso sob uma árvore frondosa.
Foi aí que peguei minha garrafa d’água e bebi o último gole restante.
Emiliano me perguntou: “A água deu, Lana?”
Respondi que sim e então ele disse: “Você nunca vai saber! A gente só sabe se deu quando sobra!!!

Logo adiante, bebemos água fresca do Córrego Água Perdida, no alto da serra!

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