Emiliano e o Gole d’Água
Emiliano é um Kalunga instruído, pois
foi professor de alfabetização de adultos e fala Português com perfeição, o que ensinou bem a todos seus
nove filhos e filhas,como José e Paulino, companheiros de viagens e cavalgadas.
Conheci Emiliano em 2000, quando fomos
conhecer os caminhos do Engenho para o Vão de Almas e Choco, numa cavalgada de
quatro dias.
O grupo, composto por técnicos do
WWF-Brasil, nossos guias kalunga Benedito e Salomão, partiu da casa de Sirilo,
no Povoado do Engenho, logo cedo, após pernoite no local.
Logo após a partida, encontramos com
Emiliano ou Emílio, como é conhecido na comunidade, a pé, de bermudas e
sandálias havaianas, com um embornal que continha o que ele precisava –
farinha, carne seca, fumo, palha e o artifício - isqueiro de chifre, algodão,
uma pedra “figo”-de - galinha” e um “fuzil” (fusível - pedaço de ferro) para a
viagem de quase 20 km
descendo a serra.
Água ele não levara, pois conhecia
todas as fontes do caminho.
Emiliano humildemente perguntou se
podíamos viajar juntos e se juntou ao grupo, andando ligeiro e saltando pedras
como um garoto, mesmo com seus cinqüenta e tantos anos.
Ele me lembra o Gilberto Gil, tanto
fisicamente como na maneira de falar. Depois de muitas conversas e “causos” ao
longo da estrada cavaleira, sempre com o “paieiro” na boca, paramos para um
descanso sob uma árvore frondosa.
Foi aí que peguei minha garrafa d’água
e bebi o último gole restante.
Emiliano me perguntou: “A água deu, Lana?”
Respondi que sim e então ele disse: “Você nunca vai saber! A gente só sabe se
deu quando sobra!!!
Logo adiante, bebemos água fresca do
Córrego Água Perdida, no alto da serra!
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